Violência e insegurança levam 14,5 milhões de pessoas a se mudar nas Américas

Do número total de pessoas deslocadas internamente nas Américas, 13 milhões estavam associadas a desastres e 1,5 milhão a conflitos e violência, segundo dados do Conselho Norueguês para Refugiados referentes a 2024

Los migrantes cruzan el traicionero paso del Darién camino de la frontera con EE.UU.
08 de Junho, 2025 | 01:25 PM

Bloomberg Línea — As Américas registraram um recorde de 14,5 milhões de pessoas deslocadas internamente em 2024, 22% do total global e superando o recorde anterior de cinco anos, de acordo com um relatório do Conselho Norueguês para Refugiados (NRC, na sigla em inglês).

Do número total de deslocados internos, 13 milhões estavam associados a desastres e 1,5 milhão a conflitos e violência, diz o Relatório Global sobre Deslocamento Interno 2025.

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O país mais atingido por esse flagelo nas Américas é o Haiti, com um total de 889.000 pessoas deslocadas internamente por conflitos e violência, além de 4.800 por desastres.

No Haiti, “a instabilidade política persistente e a consolidação de gangues criminosas explicam o aumento da violência e do deslocamento em 2024″, diz o relatório.

“Uma coalizão de gangues conhecida como Viv Ansanm realizou um número crescente de ataques coordenados no final de 2023 e ao longo de 2024″, observa o NRC.

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Em seguida, vem a Colômbia, com 388.000 pessoas deslocadas internamente por conflitos e violência, no mesmo nível dos últimos três anos. O país também registrou 91.000 pessoas mobilizadas por desastres em 2024.

O Equador, por sua vez, registrou 101.000 deslocados internos por conflitos e violência e 4.400 por desastres.

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De acordo com o relatório, “grupos criminosos baseados no Equador e na Colômbia aumentaram suas atividades nos últimos anos, principalmente perto da capital, Quito, e nas províncias de Esmeraldas, Manabí, El Oro e Guayas”.

Se for levado em conta apenas o deslocamento devido a desastres naturais, os Estados Unidos registraram o maior número, com 11 milhões de deslocamentos, especialmente relacionados a furacões.

O Brasil registrou o maior número de deslocamentos por desastres até o momento, com 1,1 milhão. A maioria foi causada por enchentes no estado do Rio Grande do Sul, onde chuvas acima da média afetaram uma área do tamanho do Reino Unido.

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Pessoas deslocadas no mundo

Em 2024, o número de pessoas deslocadas internamente (IDPs) atingiu um recorde de 83,4 milhões em todo o mundo.

De acordo com o balanço, 73,5 milhões foram deslocados por conflitos e violência, um aumento de 80% em seis anos.

Além disso, cerca de 9,8 milhões de pessoas foram deslocadas internamente em decorrência de desastres, um aumento de 29% em relação ao ano anterior e mais que o dobro do número registrado há apenas cinco anos.

O número de países que sofreram deslocamento induzido por conflitos e desastres triplicou desde 2009.

Cerca de 99,5% dos deslocamentos por desastres em todo o mundo foram causados por deslocamentos relacionados ao clima, muitos deles intensificados pela mudança climática.

“O deslocamento interno é um fenômeno em que o conflito, a pobreza e os impactos climáticos se sobrepõem e atinge mais duramente os mais vulneráveis”, disse Alexandra Bilak, diretora do Internal Displacement Monitoring Centre (IDMC).

De acordo com Bilak, esses últimos números mostram que o deslocamento interno não é apenas uma crise humanitária, mas também “um claro desafio político e de desenvolvimento que exige muito mais atenção do que recebe atualmente”.

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O efeito da violência na economia

O crime organizado e a violência estão agravando a já frágil perspectiva econômica da América Latina e do Caribe, levando a região a registrar o crescimento mais lento do mundo, com projeção de expansão do PIB de 2,1% em 2025 e 2,4% em 2026, de acordo com um relatório recente do Banco Mundial.

A região enfrenta níveis alarmantemente altos de violência letal ligada ao crime organizado – enquanto as taxas de vitimização são três vezes maiores que a média global, as taxas de homicídio são oito vezes maiores.

E, embora a população da América Latina represente aproximadamente 9% do total mundial, ela é responsável por um terço de todos os homicídios, de acordo com o relatório Crime Organizado e Violência na América Latina e no Caribe, publicado pelo Banco Mundial.

Na América Latina e no Caribe, o crime organizado exerce governança sobre territórios, substitui funções estatais, financia suas atividades por meio de extorsão e enfraquece a democracia por meio da captura do Estado.

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) estimou que as perdas diretas de capital humano e os gastos com segurança na América Latina em 2022 representaram 3,4% do PIB.

Em comparação, o Banco Mundial relatou em 2010 um custo maior de 7,7% do PIB somente para a América Central, considerando também os custos materiais e de saúde.

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Daniel Salazar

Profissional de comunicação e jornalista com ênfase em economia e finanças. Participou do programa de jornalismo econômico da agência Efe, da Universidad Externado, do Banco Santander e da Universia. Ex-editor de negócios da Revista Dinero e da Mesa América da Efe.