Bloomberg Línea — O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 15% ao ano, mantendo o ciclo de alta de juros iniciado em setembro de 2024. A decisão foi unânime.
A decisão do Copom contraria a projeção majoritária do mercado, que esperava a manutenção da Selic no patamar anterior de 14,75% ao ano.
Pesquisa da Bloomberg mostrava que 19 de 31 economistas projetavam a manutenção da Selic, enquanto os demais esperavam uma elevação de 0,25 ponto percentual.
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O tom dos discursos recentes do presidente do BC, Gabriel Galípolo, manteve as incertezas sobre o fim do ciclo de aperto. Foi a sétima alta seguida da Selic, elevando a Selic em 4,50 pontos percentuais desde que a taxa estava em 10,50% até setembro do ano passado.
No comunicado que acompanhou a decisão nesta quarta-feira (18), o Copom afirmou que “entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante”.
“Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, diz o comunicado.
O comitê também indicou que pode fazer uma pausa no ciclo de alta de juros na próxima reunião.
“Em se confirmando o cenário esperado, o Comitê antecipa uma interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”, diz o comunicado.
O Copom destacou também que o cenário exige uma política monetária “em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado”, adotando um tom mais duro em relação ao comunicado anterior, quando falava apenas em um “período prolongado”.
O comitê destacou que o ambiente internacional segue exigindo cautela diante da política econômica dos Estados Unidos. O comunicado destacou especialmente o “acirramento da tensão geopolítica” e a política fiscal americana, dois pontos que não estavam no texto da decisão anterior.
Sobre a economia brasileira, o Copom avaliou que os indicadores têm apresentado “algum dinamismo”, mas que já se nota uma “certa moderação no crescimento”, uma leve mudança de tom em relação ao comunicado de maio.
O comunicado também indicou que o Copom segue acompanhando “com atenção” os desdobramentos da política fiscal brasileira e seus efeitos na política monetária e nos ativos brasileiros, mas retirou a menção à política comercial dos Estados Unidos.
“O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho”, afirma o Copom no texto.
Economia resiliente
A decisão ocorre em meio a sinais de desaceleração da inflação, mas com a atividade econômica ainda resiliente e o mercado de trabalho apertado.
O índice oficial de inflação medido pelo IPCA subiu 0,26% em maio e acumulou alta de 5,32% em 12 meses. O resultado veio abaixo das estimativas do mercado e interrompeu uma sequência de três meses de aceleração.
Além disso, as expectativas de inflação para o fim de 2025 caíram pela terceira semana seguida, passando de 5,44% para 5,25%, segundo a pesquisa Focus divulgada na segunda-feira (16).
Ainda assim, as projeções seguem acima da meta de 3% definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
O crescimento econômico tem surpreendido analistas. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,4% no primeiro trimestre, impulsionado pela agricultura e pelo consumo das famílias. Em abril, o índice de atividade do Banco Central subiu 0,16%, resultado acima da mediana das projeções.
Desde setembro de 2024, o Copom elevou a Selic em mais de quatro pontos percentuais, como resposta ao aumento dos preços em um ambiente de expectativas desancoradas e incertezas fiscais.
Comunicado do Copom de 18/06/2025 na íntegra:
“O ambiente externo mantém-se adverso e particularmente incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente acerca de suas políticas comercial e fiscal e de seus respectivos efeitos. Além disso, o comportamento e a volatilidade de diferentes classes de ativos também têm sido afetados, com reflexos nas condições financeiras globais. Tal cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes em ambiente de acirramento da tensão geopolítica.
Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho ainda tem apresentado algum dinamismo, mas observa-se certa moderação no crescimento. Nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação.
As expectativas de inflação para 2025 e 2026 apuradas pela pesquisa Focus permanecem em valores acima da meta, situando-se em 5,2% e 4,5%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o ano de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,6% no cenário de referência (Tabela 1).
Os riscos para a inflação, tanto de alta quanto de baixa, seguem mais elevados do que o usual. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada do que a projetada, tendo impactos sobre o cenário de inflação; (ii) uma desaceleração global mais pronunciada decorrente do choque de comércio e de um cenário de maior incerteza; e (iii) uma redução nos preços das commodities com efeitos desinflacionários.
O Comitê segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado.
O Copom decidiu elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 15,00% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
Em se confirmando o cenário esperado, o Comitê antecipa uma interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta. O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Gabriel Muricca Galípolo (presidente), Ailton de Aquino Santos, Diogo Abry Guillen, Gilneu Francisco Astolfi Vivan, Izabela Moreira Correa, Nilton José Schneider David, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.
Tabela 1
Projeções de inflação no cenário de referência
Variação do IPCA acumulada em quatro trimestres (%)
Índice de preços | 2025 | 2026 |
---|---|---|
IPCA | 4,9 | 3,6 |
IPCA livres | 5,2 | 3,4 |
IPCA administrados | 3,8 | 4,1 |
No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de R$5,60/US$, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2025 e de 2026. O valor para o câmbio foi obtido pelo procedimento usual. "
-- Com informações da Bloomberg News. Atualizado às 19h10 para incluir mais detalhes do comunicado.
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