Fim do café mais caro? O que esperar dos preços nos próximos meses, segundo analistas

Safra dos grãos de robusta no Brasil, maior produtor mundial, se beneficia do clima, mas volatilidade continua a marcar o horizonte nos mercados internacionais

A perspectiva para o café é marcada pelas chuvas que atrasam a colheita na Colômbia, enquanto o Brasil caminha para uma colheita robusta e a perspectiva para o Vietnã melhora devido ao clima favorável
24 de Junho, 2025 | 01:16 PM

Bloomberg Línea — Fatores climáticos, logísticos e comerciais estão pressionando os preços globais do café e podem ser decisivos para o restante do ano para esta commodity em meio à volatilidade atual.

A perspectiva para o café é marcada pelas chuvas que atrasam a colheita na Colômbia, enquanto o Brasil caminha para uma colheita robusta e a perspectiva para o Vietnã melhora devido ao clima favorável.

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De qualquer forma, a volatilidade dos preços continua a marcar o horizonte para o café nos mercados internacionais.

“Os três maiores produtores de café da América Latina são Brasil, Colômbia e Honduras, portanto, são os que mais provavelmente se beneficiarão do aumento de preços”, disse o analista financeiro Gregorio Gandini à Bloomberg Línea.

No entanto, “a origem do aumento de preços em 2024 deveu-se em grande parte à seca mais severa em 60 anos no Brasil. A recuperação da produção será um fator crucial para determinar o quanto este país se beneficiará do atual nível de preços”, acrescentou Gandini.

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A safra de café robusta no Brasil, o maior produtor mundial, agora se beneficia do clima, que está aumentando a oferta de grãos no mercado e pressionando os preços para baixo no médio prazo.

Nesse sentido, Gandini espera que os preços caiam este ano, à medida que o Brasil retorna aos níveis normais de produção.

Em um relatório recente, o Banco Mundial projetou que o preço médio do café arábica atingirá US$ 8,50 por quilo em 2025, um aumento de 51,2% em relação a 2024.

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Para países como Colômbia, Honduras e Peru, esse ciclo de alta representou uma oportunidade para melhorar a renda dos pequenos produtores e fortalecer suas contas externas.

O relatório explica que “os preços do café atingiram máximas históricas no início de 2025, principalmente devido às condições climáticas adversas que limitaram a oferta de cacau na África Ocidental e de café no Brasil”.

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Impulso na Colômbia

No caso da Colômbia, terceiro maior produtor mundial, o impacto da alta dos preços no setor cafeeiro vai muito além da produção agrícola.

O setor cafeeiro impulsiona a economia nos departamentos da Colômbia, gerando um efeito multiplicador.

A renda dos cafeicultores impulsiona o comércio local, o pagamento de dívidas, a renovação de veículos e a construção civil.

De acordo com dados oficiais, o café colombiano é produzido em 603 municípios de 22 departamentos, e mais de 549.000 famílias estão envolvidas no cultivo.

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Atualmente, os pequenos produtores, com menos de cinco hectares, representam 96% do total e são responsáveis ​​por 60% da produção nacional, segundo dados coletados pela Unidade de Planejamento Agrícola Rural (UPRA).

Mas, em meio à volatilidade dos preços, há dúvidas sobre quanto tempo esse ciclo poderá durar.

O Citi reduziu recentemente sua previsão para o café, estimando que os preços dos contratos ICE cairão. “Revisamos nossa meta de preço para US$ 3,75 por libra para o período de 0 a 3 meses e US$ 3,50 para o período de 6 a 12 meses, devido à volatilidade de curto prazo e à recuperação da oferta”, afirma o relatório. As chuvas no Brasil e a desaceleração do consumo contribuíram para essa pressão descendente.

Cristina Scocchia, CEO da torrefadora italiana Illy, espera que os preços do café verde — grãos não torrados — se estabilizem entre US$ 2 e US$ 2,50 por libra nos próximos 15 meses, abaixo do recorde de mais de US$ 4 atingido em fevereiro.

De acordo com a Bloomberg, a empresa absorveu a maior parte desse aumento de custos, elevando os preços apenas de 8% a 10% em toda a sua linha de produtos este ano.

Preço justo

Apesar dos valores de mercado atuais, o ativista Fernando Morales-de la Cruz afirma que os maiores beneficiários são, na verdade, “as multinacionais de café e aqueles que vendem café por xícara, porque aumentaram os preços para o consumidor final”.

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O ativista dos direitos humanos e do combate ao trabalho infantil nas cadeias de suprimentos afirma que o preço do café permanece baixo em termos reais. “O preço atual do café não é alto. Hoje, pagamos US$ 3,24 por libra, mas, ajustado pela inflação, equivale a apenas US$ 1 em 1983, quando o preço oscilava entre US$ 1,20 e US$ 1,40.”

Um preço de US$ 1,40 por libra em 1983 equivale a US$ 4,54 hoje, então o preço real deveria ser US$ 5,50 (preço na porta da fazenda)“, argumentou o ativista.

De acordo com Morales-de la Cruz, “a maioria das pessoas que trabalham na indústria do café, assim como a maioria dos jornalistas” ignoram o fato de que nas plantações de café “há miséria, fome, desnutrição infantil, trabalho infantil e até mesmo trabalho forçado”.

“Há fome nas terras de cultivo de café. O café é produzido com trabalho infantil em pelo menos 17 países, de acordo com o relatório oficial de 2024 do Departamento do Trabalho dos Estados Unidos”, argumentou a ativista.

De acordo com um relatório recente da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o trabalho infantil é um flagelo que afetou 138 milhões de crianças em todo o mundo em 2024, uma redução total de mais de 22 milhões desde 2020.

Por setor, a agricultura continua sendo o maior setor de trabalho infantil, respondendo por 61% de todos os casos globais.

Em seguida, vêm os serviços (27%), como trabalho doméstico e venda de produtos em mercados, e a indústria (13%), incluindo mineração e manufatura, de acordo com a OIT.

Em uma coluna de opinião, o ativista Fernando Morales-de la Cruz argumentou que os números publicados sobre esse flagelo “subestimam perigosamente a magnitude de uma das crises de direitos humanos mais brutais do mundo”.

Daniel Salazar Castellanos

Profesional en comunicaciones y periodista con énfasis en economía y finanzas. Becario de EFE en el programa de periodismo de economía de la Universidad Externado, Banco Santander y Universia. Exeditor de Negocios en Revista Dinero y en la Mesa América de la agencia española de noticias EFE.